Idade, diploma, renda: o que realmente determina os votos dos franceses

Idade, diploma, renda: o que realmente determina os votos dos franceses

E de repente, as eleições legislativas tornaram-se novamente cruciais. Depois de vinte e sete anos de “dormência”, onde serviram apenas como boletins de confirmação para as eleições presidenciais, as eleições legislativas de 30 de junho e 7 de julho recuperarão as suas credenciais. Tal como em 1997, quando Jacques Chirac dissolveu a Assembleia Nacional e as eleições legislativas trouxeram a esquerda plural de Lionel Jospin para Matignon, cada campo está a examinar as suas forças antes de um resultado que é ao mesmo tempo decisivo e muito incerto nas urnas.

O Rally Nacional (RN) já venceu? Poderá a esquerda unida ser a principal força de oposição, ou melhor ainda? A Renascença e Emmanuel Macron já perderam? Para tentar adivinhar, nada melhor do que nos aprofundarmos nos resultados eleitorais da noite de domingo.

É claro que levará algum tempo para que os especialistas em sociologia eleitoral analisem os resultados em detalhe. Mas as primeiras “sondagens de boca de urna” já dão uma boa ideia do que aconteceu no domingo, delineando assim algumas das chaves para as eleições legislativas no início do verão.

1/ Abstenção: a verdadeira chave para as eleições europeias e futuras eleições legislativas

“Um tsunami. » Foi assim que a maioria dos comentadores políticos descreveu a vitória do Rally Nacional. Inquestionavelmente, Jordan Bardella bateu forte entre os votos expressos, atingindo um nível (31,5%) nunca visto desde a vitória da lista de centro-direita de Simone Veil em 1984 (43% dos votos expressos).

O cabeça de lista do RN arrebatou votos de outros candidatos (voltaremos a isso) e em ambientes tradicionalmente fechados para ele, mas o seu sucesso pode ser explicado sobretudo pela capacidade que o partido Lepéniste teve de mobilizar os seus eleitores, mais do que entre todos os outros partidos.

“Houve uma desmobilização na esquerda, e mais ainda no eleitorado macronista, que beneficiou integralmente o RNanalisa Mathieu Gallard, diretor de pesquisa do instituto Ipsos. Se pegarmos a imagem de um copo d’água, a quantidade de água do RN está próxima das eleições anteriores, mas com a baixa participação o copo é menor, o que torna as pontuações do RN bastante expressivas dentro deste copo. »

Tradicionalmente considerada prejudicial à extrema direita, a baixa participação beneficiou-a. Um elemento bastante surpreendente para alguns especialistas. Martial Foucault, pesquisador do Cevipof, se surpreende com o fato de “as taxas de participação dos menos qualificados foram muito melhores do que o habitual, por vezes até mais elevadas do que as dos mais qualificados. Tradicionalmente, é antes o oposto que observamos.”

“Essa é uma mudança que não é totalmente nova, começamos a observar nas últimas eleiçõesporém, nuance Vincent Tiberj, sociólogo da Universidade de Bordeaux. Trata-se, de facto, de um preconceito geracional, porque os grupos etários mais velhos, que incluem muitas pessoas com baixas qualificações, ainda votam muito. Por outro lado, os jovens, que são bastante mais qualificados, estão, em média, mais distantes da política partidária e votam menos. »

Um lembrete de que a idade é o factor mais decisivo – de longe – em termos de participação.

Se neutralizarmos o efeito geração e ampliarmos a participação em cada faixa etária, o facto de ter diploma continua a ser decisivo na probabilidade de votar mais”continua Vincent Tiberj.

Estas diferenças na participação determinarão, em qualquer caso, em grande parte o resultado das eleições legislativas. Já é certo que o RN irá reabastecer o seu eleitorado, que está muito mobilizado. Resta saber se o eleitorado de esquerda e o de Emmanuel Macron, que evitou mais as urnas no domingo, irão abalar a situação no final de junho e início de julho.

Agora que fizemos um balanço de quem votou (ou não), vamos nos concentrar em quem compareceu. Em que eles votaram? E que perspectivas estes dados oferecem na equação das futuras eleições legislativas?

2/ Idade: Os velhos com Macron, os jovens com LFI

Tal como acontece com a participação, a idade é muito decisiva na hora de votar. Particularmente para dois partidos: La France insoumise (LFI) e Renaissance. Ambos experimentam trajetórias perfeitamente lineares dependendo da idade, mas de maneiras opostas. Assim, o LFI recruta muito entre os jovens e a sua pontuação diminui com a idade. Por outro lado, “o campo macronista obtém resultados espetacularmente fracos entre os jovens. Você tem que esperar até 60-69 anos para vê-lo passar a marca dos 15 % de votos expressos »aponta Mathieu Gallard.

Jordan Bardella, por sua vez, recruta em todas as faixas etárias, com relativas “dificuldades” nos dois extremos da vida cívica: os jovens de 18 a 24 anos ainda “incomodam o Rally Nacional”, para usar o título de uma música que não mais presentes, e o “cordon santé” que sempre se manteve entre os eleitores mais velhos ainda se mantém globalmente (25% dos votos expressos entre aqueles com mais de 70 anos).

3/ Renda: LFI recruta principalmente entre os menos ricos, o RN não faz distinção

Na competição do autoproclamado “partido dos precários”, a LFI é o partido mais legítimo para reivindicar este título. Claro que, pela elevada pontuação global do RN, não está em primeiro lugar entre os mais pobres: o RN convence 32% dos eleitores que votaram no domingo e que vivem num agregado familiar que ganha menos de 1.250 euros por mês, contra apenas 16. % para LFI.

Mas a lista de Jordan Bardella recruta em todo o lado, com pontuações relativamente homogéneas em todo o espectro de rendimentos. Ela está, portanto, bem à frente em todos os níveis de riqueza eleitoral, incluindo aqueles que vivem num agregado familiar que ganha mais de 3.000 euros por mês. Conhecemos partidos “anti-sistema” que assustam mais os ricos.

4/ CSP: O RN hegemônico entre os trabalhadores e primeiro empate entre executivos que votaram

O primeiro grupo de executivos? O Rali Nacional! Você leu corretamente: Jordan Bardella foi favorecido por 20% dos executivos que votaram no domingo. Apenas a lista de Raphaël Glucksmann (Place publique – Partido Socialista) conseguiu atingir a mesma pontuação, sem fazer melhor. É claro que apenas 48% dos membros desta categoria socioprofissional votaram nas urnas. E podemos pensar que o RN está, nesta profissão específica, perto do teto de vidro que será a sua posição nas próximas eleições legislativas. O símbolo não permanece menos forte.

O segundo símbolo forte, menos surpreendente, situa-se no outro espectro de categorias socioprofissionais. Diz respeito aos trabalhadores, que escolheram esmagadoramente o RN. Só Jordan Bardella obteve 54% dos votos dos operários que compareceram às urnas. Um sucesso inegável, ainda que, num contexto de abstenção ainda significativa, “esta pontuação representa “apenas” 24 % de eleitores nesta profissão no total. Primeiro “partido” dos trabalhadores, mantém-se de longe a abstenção »lembrou ontem Vincent Tiberj em nossas colunas.

5/ O diploma, a fronteira mais estreita contra o RN

Num contexto de baixa participação, como vimos, o Rally Nacional fez incursões em eleitorados que até então lhe estavam relativamente fechados, como os executivos. Existe então ainda um grupo social que, parafraseando a história em quadrinhos Asterix e Obelix, “ainda resiste ao invasor”?

A resposta é sim, e são graduados. A probabilidade de votar RN diminui perfeitamente com o nível do diploma. Reflectindo isto, a relação é inversa para o LFI, cujas pontuações aumentam com o aumento das qualificações dos eleitores.

6/ Género, geografia: critérios pouco decisivos

Dois últimos critérios sociológicos importantes podem, em teoria, entrar em jogo: género e local de residência. Mas nenhum dos dois é realmente decisivo. Em termos de género, homens e mulheres tiveram comportamentos muito semelhantes no domingo: as mulheres abstiveram-se um pouco mais e votaram mais nos ecologistas e um pouco menos no RN e na Reconquista do que os homens. Mas as diferenças são muito pequenas.

Da mesma forma, apesar dos mapas impressionantes, mas enganosos, o RN não conseguiu um maremoto na campanha. É claro que lá tem um desempenho superior e um desempenho inferior nos centros das grandes metrópoles com forte dinamismo económico (Rennes, Grenoble, Lille, Montpellier, Nantes, Paris, etc.). Mas é sobretudo um efeito de composição: nestas cidades, os licenciados estão sobrerrepresentados.

No geral, o efeito de grau supera o efeito de densidade. Assim, o RN alcança excelentes pontuações em centros de cidades pobres e em crise como Marselha, Saint-Etienne, Metz, ou, noutro registo – mais ligado às questões de imigração – em Nice e Toulon.

7/ Lealdade e diluição dos eleitorados de 2022: diferenças significativas dependendo dos partidos

Observar o passado eleitoral dos eleitores dominicais, como faz a Ipsos, proporciona várias lições interessantes. Assim, como vimos, a lealdade do eleitorado do RN explica em grande parte o seu sucesso eleitoral entre os europeus. Mesmo que Jordan Bardella tenha obtido menos votos em termos absolutos do que Marine Le Pen na primeira volta das eleições presidenciais de 2022 (7,7 milhões contra 8,1 milhões), esta perda é notavelmente baixa em comparação com os seus adversários políticos.

O exemplo mais flagrante, a lista La France insoumise (LFI) liderada por Manon Aubry perdeu 5,2 milhões de votos em comparação com a pontuação de Jean-Luc Mélenchon em 2022!

« 88 % de eleitores que foram às urnas no domingo e que votaram em Marine Le Pen em 2022 votou em Jordan Bardella. Contra apenas 39 % Votos LFI em 2024 para quem escolheu Jean-Luc Mélenchon em 2022 »apoia Mathieu Gallard.

Além desta perda, observamos à esquerda uma forte porosidade entre os eleitorados do PS, EELV e LFI. A boa pontuação de Raphaël Glucksmann pode ser explicada pela transferência significativa de votos dos eleitorados de Jean-Luc Mélenchon e Yannick Jadot durante as eleições anteriores. O reflexo do “voto útil” baseado nas sondagens parece, portanto, funcionar com força total entre estes três partidos.

Finalmente, é interessante observar a transferência de votos do RN para o LR e o Renascimento porque estes dois últimos partidos tentaram caçar nas terras do partido frontista endurecendo o seu discurso sobre imigração e insegurança. O resultado é claro: os relatórios variam entre minúsculos e inexistentes, um lembrete de que os eleitores muitas vezes preferem o original à cópia. Resta saber se LR e Renaissance mudarão de tom na corrida por Matignon.

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